Juro, acredita em mim - a sala de visitas estava escura - mas a música chamou para o centro da sala - a sala se escureceu toda dentro da escuridão - eu estava nas trevas - senti que por mais escura a sala era clara - agasalhei-me no medo - como já me agasalhei de ti em ti mesmo - que foi que encontrei? - nada senão que a sala escura enchia-se da claridade que se adivinha no mais escuro - e que eu tremia no centro dessa difícil luz - acredita em mim embora eu não possa explicar - houve alguma coisa perfeita e graciosa - como se eu nunca tivesse visto uma flor - ou como se eu fosse a flor - e houvesse uma abelha - uma abelha gelada de pavor - diante da irrespirável graça dessa luz das trevas que é uma flor - e a flor estava gelada de pavor diante da abelha que era muito doce - acredita em mim que também não creio - que também não sei o que poderia uma abelha viva de pavor querer na escura vida de uma flor - mas crê em mim - a sala estava cheia de um sorriso penetrante - um rito fatal se cumpria - e o que se chama de pavor não é pavor - é a brancura subindo das trevas - não ficou nenhuma prova - nada te posso garantir - eu sou a única prova de mim.
Dizia eu no auditório da Unip- Jornada de Letras 2007...Algo inesquecível pra mim...
Apresentação: Aniversário de 100 anos de Clarice Lispector.
in "Para não esquecer" - 5ª ed. - Siciliano - São Paulo, 1992
Anfitrite e Neptuno ou Poseidon
Costumo pensar que o PRECONCEITO é um mal extremamente IGNORANTE dentro da sociedade...não há outro mal que supere esse nos dias de hoje... me esforço tanto para entender qual é o problema das pessoas que se dizem NORMAIS com as pessoas que eles mesmos julgam ser os DIFERENTES que vivem em nosso meio. As pessoas que tem essa doença ( PRECONCEITO - considero esse comportamento como uma doença) são aquelas que de alguma forma não se instruem, não lêem, não possuem opinião própria, vivem num mundinho pequeno, e ESQUECEM o que seus próprios filhos realmente SÃO, que por vezes podem ser até os DIFERENTES que a sociedade tanto importunam. 
